terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A Mara mulher - O que pensar da nossa realidade?

Preconceitos e neuras à parte, o que realmente me preocupa na condição de mulher com deficiência são os acessos. Segundo o IBGE, no Brasil, cerca de 46% dos 27 milhões de pessoas com deficiência são mulheres. A maioria delas não tem acesso aos serviços de saúde comuns ao público feminino, como um acompanhamento ginecológico e a realização de exames preventivos a doenças como câncer de mama. Tudo isso por conta da ausência de postos de saúde acessíveis. Para se ter uma ideia, em todo o Estado de São Paulo só há um hospital com mamógrafos adaptados. Isso porque estamos falando do Estado mais rico do Brasil.
As mulheres com deficiência física são as que mais sofrem com esta falta de acesso. Depois da cadeira de rodas, muitas mulheres deixam de frequentar um consultório ginecológico. Além de enfrentar a mudança de tratamento do marido, da família, e da sociedade que a encaram como um ser com a sexualidade inativa, os postos de saúde não têm recursos nem equipamentos para atender mulheres com deficiência como ela. Falta acessibilidade para ê-la no lugar.
Como mulher, cidadã e pessoa pública luto para mudar este cenário. Sei que com os mesmas oportunidades conquistaremos muita coisa. Eu sou a prova disso. Não me mexo quase nada do pescoço para baixo, mas e daí: eu trabalho, me divirto, cobro meus direitos. Luto pelo de outras pessoas. E principalmente, eu ainda corro muito. Em uma maratona frenética, onde me recuso a correr sem vislumbrar a felicidade.
A mulher com deficiência que tem acesso aos serviços necessários para uma vida digna pode contemplar a plenitude de sua feminilidade. Pode ser mãe, profissional, as duas coisas. Várias coisas. Ou nenhuma, se assim desejar. A deficiência não a impede de fazer nada. Agora, a deficiência da cidade sim. Tudo depende de acessos, de oportunidades. Para trabalhar é preciso ter saúde. E para tal deve existir acesso. Para amar é preciso ter o respeito dos outros e confiança em si mesma. Para isso, é preciso ter qualidade de vida. Ou seja, o externo reflete no nosso interno.
No fundo mesmo, o que toda mulher com deficiência quer é o mesmo que todas as cidadãs almejam. Respeito, reconhecimento, amor. Não necessariamente nesta ordem. Talvez, a forma como elencamos nossos desejos seja a única coisa que nos difere uma das outras.
Com deficiência ou não podemos nos tornar profissionais exemplares, atletas de respeito, políticas. Mães. Também podemos, simplesmente, ser mulheres. E convenhamos, isso já não é para qualquer um.
Mara Gabrilli é deputada federal

Fonte: http://www.ame-sp.org.br

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