terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Caso Real: CATA-MILHO, CATA-VIDA

Já passei dos sessenta anos, dos quais mais de trinta acamada. A artrite instalada desde meus vinte e poucos anos deixou somente um dos meus dedos das mãos ainda funcional. É com ele que acesso o mundo virtual, digito meus poemas e textos. Daí o cata-milho. Hoje crianças que apresentam artrite reumatóide juvenil usam medicamentos que não existiam para mim, teriam impedido um avanço tão devastador da doença. Fico entre a cama, e o assento em frente ao computador, aonde faço trabalhos de digitação sob encomenda, minhas poesias (já publicadas!), e os textos que acabaram virando meu livro Estas crianças são estimuladas a desenvolver sua parte intelectual e artística, o que tive a sorte de construir, apesar das limitações de minha doença, e hoje é o que me faz ser cata-vida. Escrevo, para as pessoas perceberem que a vida é mais forte do que a dor e a doença. Imagino assim oferecer momentos de conforto para quem está em um hospital, seja para tratamento ou cirurgia. Já fiquei muito em hospitais.É momento de vida que cria tempo para ler, para refletir, para entender que o choro tem seu tempo, mas também de perceber que é hora de buscar outra saída.Mesmo tendo minha mobilidade reduzida, pelo papel, pelas palavras, posso ser um tipo de colo, minha experiência vale para alguém, e isto é vital para mim. A Divina Providência , generosamente arranjou também para que eu tivesse um dedicadíssimo esposo, que cuida do meu banho e do meu vestir, de nossa casa e de nossas roupas, providenciando ainda um extra para nossas aposentadorias trocando a palhinha de assento de cadeiras e fazendo vasos especiais para orquídeas. Conseguimos criar três moços, e uma moça. “Somos de carne, mas temos que viver como se fossemos de ferro” – Sigmund Freud.



Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga e diretora da Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência.

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